beijos
Lavou os
camarões sem casca – 300g
aproximadamente - e os colocou na panela com a água que já fervia há alguns
minutos. Retirou-os quando estavam rosados, uns 3 minutos depois de tê-los
colocado, e lavou-os com água fria para parar o cozimento.
Enquanto colocou 1
colher de sopa de azeite e 1 cebola média em cubos e começou a mexer até a
cebola murchar, abriu o envelope que pegou na caixinha do correio. Coração em
festa! Havia lido centenas de cartas com aquela letrinha inconfundível em sua
adolescência/juventude.
Conheceram-se – ela e
Kátia Maria – aos 12 anos, ambas, quando esta havia vindo morar em Brasília com
a irmã mais velha, Zezé. Foi a primeira vez em que ouviu alguém falar de São
Luís do Maranhão com tanta paixão: a ilha do amor.
Imersa em suas
lembranças, quase deixou a cebola queimar, nesse momento adicionou 1 xícara de
vinho branco seco e quando o álcool evaporou colocou 2 caixinhas de creme de
leite e mexeu vigorosamente até incorporar. Corrigiu o sal e a pimenta, colocou
os camarões e apagou o fogo. Acrescentou cheiro verde bem picadinho e
experimentou: estava perfeito. O sabor era como se lembrava de ter apreciado
esse prato feito por um amigo da Alessandra, que é amiga da Kátia Maria, numa
das vezes em que voltou a São Luís. E perdeu-se nas recordações novamente...
Depois de alguns
meses de intensa amizade, a Kátia teve que voltar para casa. Trocaram endereço
e telefone e prometeram escrever-se com frequencia. E assim aconteceu.
Telefonavam-se de 2 a
3 vezes ao ano: 14 de abril, 14 de outubro e 25 de dezembro – aniversário de
uma e outra e natal. Trocaram muito mais que simples correspondências por anos
e anos. Havia histórias, segredos, as mais profundas confidências e desejos,
banalidades, sonhos, experiências. Um pouco de tudo era registrado naquelas
cartas. E cumplicidade, muita cumplicidade.
Folhas de caderno,
papéis de carta decorados e até guardanapos de bares e restaurantes formaram
aquele acervo com a história de cada uma. Reencontraram-se pela primeira vez
depois de 17 anos, quando resolveu sair de Brasília rumo a São Luís: 36 horas
de ônibus. Mas valia a pena, havia acabado de se formar em Turismo e ia
finalmente reencontrar a amiga querida. Conheceria enfim a famosa ilha do amor
e os lugares sobre os quais lera e imaginara tantas e tantas vezes naquelas
deliciosas cartinhas. Conheceria os familiares e amigos da amiga, e seus
filhos. Em momento algum teve medo de que as coisas não fossem como antes,
sabia que apesar de tantos anos afastadas a amizade havia se solidificado.
O reencontro foi delicioso, como não podia deixar de ser. A amiga e seus filhos a levaram a descobrir cada pedaço da ilha: a Praia Grande, o Centro Histórico, o Bar do Rui, as infindáveis praças, as praias – Litorânea, Marcela – e seus arredores: São José de Ribamar, as praias do Raposo e Panaquatira. Uma vez foi parar em Barreirinhas com Kátia, e encantou-se com a beleza dos Lençóis Maranhenses quando esses ainda nem haviam sido ‘enrugados’ pelo turismo de massa.
Experimentou de tudo: arroz de cuxá, peixe pedra, geleia de pimenta, ostra, caranguejo com arroz de toucinho e o camarão seco feito de várias formas. A torta de camarão seco feita com ovos batidos e assada em forno médio (é só isso mesmo) é inesquecível.
São Luís pode até ser
chamada de ilha do amor pelos seus habitantes, mas para ela era muito mais que
isso: era terra de alegria, gente querida, boa comida, grandes belezas e um dos
lugares escolhidos para passar a lua-de-mel.
Foi retirada de suas
memórias com o barulho das chaves do marido abrindo a porta. Beijou-o, fechou o
envelope e, enquanto servia a mesa lembrou-se de que foi a internet com os tais
e-mails que lhe tiraram a deliciosa sensação de esperar por uma cartinha de um
amigo querido, de abrir a caixinha do correio ansiosa pela chegada de notícias
e novidades, coisas boas ou não. Ah.... as velhas e deliciosas cartinhas!
Obs.: Para acompanhar bastam arroz branco e batata palha. Refiz essa receita pouco antes de deixar o Brasil, na casa da Rosinha. Foi um almoco para nos duas e mais a Edna. Ficou uma delicia, o sabor me encheu de memorias. Agora e so aguardar e pedir a Deus que um dia essas fotos realmente cheguem.