terça-feira, 26 de julho de 2011

Um Jantar Caribenho ou seria Mexicano?


Um silêncio constrangedor pairava no corredor quando Arlete chegou em casa. Normalmente, ao sair do elevador, já ouvia a confusão das crianças correndo pelo apartamento e gritando uma com a outra. Aquela bagunça enchia a casa de alegria! Mas as crianças estavam de férias, viajando com a avó para o Rio de Janeiro. Restava no apartamento apenas Arlete, Getúlio e um silêncio arrasador.

Arlete foi andando devagar, tentando acostumar-se com aquela ausência de barulho. Colocou a chave na fechadura e, vagarosamente, abriu a porta. A mesa já estava posta e sobre a toalha branca havia uma vasilha com guacamole, uma com sour cream e outra com doritos. Duas taças contendo uma bebida verde clara com uma espuma branca por cima: só podia ser Pisco Sour. Seus olhos brilharam de desejo...

Getúlio havia preparado uma noite caribenha para curtirem aquela noite. Havia pego o livro de receitas da esposa e preparado tudo.
Para o Pisco Sour usou:
2 doses de pisco
3 doses de sumo de limão
1 colher de sopa de açúcar
1/4 de clara de ovo
Gelo a gosto

Porém, como não sabia o que fazer para separar 1/4 de clara, resolveu fazer 4 receitas, usando assim 1 clara inteira. Bateu tudo no liquidificador e serviu pouco antes de Arlete chegar. Aquela noite prometia...

Para a Guacamole usou:
1 abacate médio maduro
1 tomate maduro em cubos
1 cebola média em cubos
sumo de 1 limão pequeno
sal
pimenta
1 dente de alho amassado

Misturou todos os ingredientes e pronto.

O sour cream deu um pouquinho mais de trabalho:
a primeira receita era mais difícil pra ele primeiro porque não tinha batedeira e depois porque tinha que saber o ponto certo. No mais, não tinha a menor ideia da existência de um creme de leite que fosse fresco. Para essa receita, devia misturar 250 ml de creme de leite fresco (porque não tem soro) e o sumo de 1 limão, batendo até obter o ponto de iogurte, menos cremoso que o chantilly. depois devia acrescentar o sal, e a pimetna do reino. E então levar à geladeira até atingir um ponto cremoso.

Quando estava por desistir do sour cream, encontrou outra receita, que lhe pareceu um pouco menos complicada. Teve que misturar:
1 pote de iogurte natural (usou desnatado porque a esposa preferia)
1 caixinha de creme de leite (sem frescura)
sumo de 1 limão

Depois que o creme estava homogêneo colocou na geladeira e, ao servir, misturou mais um pouco.

Ao ver o rosto de Arlete se iluminando ao entrar em casa, Getúlio não teve dúvidas de que a ideia havia sido boa. Era impagável ver o lindo rosto de Arlete se iluminando aos poucos e abrindo aquele sorriso delicioso que ele tanto amava, num singelo: obrigada pela surpresa!
Sempre que Arlete preparava essas receitas, cortava massa de pastel em formas triangulares e fritava-as para usar como nachos, mas achou tão linda a atitude do marido que não se importou em comer doritos.

Getúlio não era assim o "ás" da criatividade, mas de vez em quando gostava de agradar Arlete que sempre ficava feliz com as pequenas atitudes, e daquela vez não foi diferente. O Pisco sour e a pimenta da guacamole contribuíram para quebrar aquele silêncio que fez Arlete temer ao chegar em casa, e ambos protagonizaram cenas de ação e barulho sem sentir falta das crianças.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Uma surpresa para Mariana: Bolo de Chocolate com Coco

'G' estava super empolgada com aquela nova 'empreitada' a que tinha se disposto. Ela e Mariana eram amigas desde os 4 anos, na Escolinha da Tia Nair. Lembrava-se muito bem de como tornaram-se amigas. No primeiro dia de aula todas as crianças começaram a rir quando a professora a apresentou e disse seu nome pedindo às crianças para serem legais com ela e levarem-na para conhecer a escola. Todo mundo riu muito e ficou fazendo piadinha. Mariana, ao contrário, levantou-se, pegou sua mão e sorrindo carinhosamente disse:
- Oi G, eu sou a Mariana e acho que vamos ser grandes amigas! Vem comigo, vou te mostrar a escola. Não liga pra eles não, eles são todos uns bobões! - E desde então nunca mais se separaram. Quando se formaram na alfabetização e foram para o Ensino Fundamental, fizeram questão de ir para a mesma escola e ficaram na mesma turma.

Hoje era o aniversário de Mariana. 12 anos. Já eram amigas há 8 anos! Muita coisa legal tinha acontecido nesses anos. Tinham aprendido muita coisa juntas. Então G, que já tinha permissão da mãe para fazer receitas simples, teve a ideia de fazer uma surpresa para sua melhor amiga: escolheu um delicioso bolo de chocolate com coco. Entrou na cozinha decidida e começou a separar os ingredientes:

1 lata de leite condensado
1 lata de leite
6 ovos
200g de chocolate em pó ou 250g de nescau (usou o chocolate porque Mari preferia chocolate mais forte e menos doce)
1 pacote de coco ralado

Depois pegou o liquidificador, colocou todos os ingredientes dentro e bateu até misturar tudo. G achou estranho porque a massa não levava farinha, nem manteiga, nem fermento, mas estava desse jeito no livro de receitas da mãe então seguiu tudo a risca. Também estranhou a massa do bolo ser tão líquida, parecia mesmo um chocolate batido, mas enfim, estava escrito assim. Untou uma forma de bolo inglês com manteiga (uma camada bem fininha) e despejou toda a massa dentro. Para testar o sabor untou também duas forminhas de petit gateaut e colocou um pouco da massa ali.

Havia ligado o forno elétrico a 200º para pré aquecer, conforme dizia a receita, antes de começar a separar os ingredientes. Então colocou a forma e as forminhas no forno e marcou 45 minutos no cronômetro da mãe.

Enquanto isso, misturou 1/2 lata de leite condensado, 2 colheres de chocolate em pó e 1 colher de manteiga. Colocou tudo no microondas por 4 minutos. Depois que esfriou juntou um pouco de creme de leite para ficar mais mole, como um brigadeiro mole.

Aos 30 minutos tirou os bolinhos do forno, cobriu com a calda de brigadeiro e polvilhou um pouco de coco ralado por cima, levou à geladeira. Quando soou o alarme, espetou um palito de dentes no bolo e, como saiu limpo, desligou o forno. Colocou a cobertura por cima, polvilhando com um pouco de coco ralado. Deixou esfriando sobre a pia e foi chamar a mãe para experimentar o bolinho com ela.

Sentaram-se na sala e a mãe realmente gostou daquela experiência culinária, enchendo a filha de elogios. G ficou toda cheia de si. Mas essa sensação não durou muito tempo. Quando sua mãe entrou na cozinha e viu a cozinha toda suja, gritou muito aborrecida: GETINAAAAALIAAAAA! Vem aqui agora!

G – que odiava aquele nome mais que tudo na vida - havia feito uma confusão na cozinha: esqueceu de tampar o liquidificador e 'voou' liquido marrom pra todo lado. G nem se abalou, o importante era que o bolo estava gostoso. E no mais, sua mãe sabia que não devia chamá-la por esse nome horroroso: Getinália! Onde é que já se viu alguém com um nome tão esquisito, estranho e feio como esses? Nunca entrara em detalhes com a mãe, mas sabia que a mãe quisera homenagear seus avós – Getúlio e Anália – mas tinha que ser justo no seu nome? Não tinha outra forma de fazer uma homenagem não?

Desfez-se dos pensamentos, arrumou a mesa da sala, colocou umas velinhas cor de rosa no bolo, caixas de suco, refrigerantes e os salgadinhos que havia encomendado sobre a mesa. Quando Mari chegou, as outras amigas já estavam na sala e G já havia retirado o bolo da geladeira (onde ficou por 1h aproximadamente). Mariana mal pode acreditar naquela mesa tão linda, aquela festa tão gostosa. E, quando experimentou o bolo, começou a encher a amiga de elogios, G sentiu-se a menina mais feliz do mundo!

Aos seus 12 anos, G já sabia: a vida é uma experiência deliciosa com as mais variadas pessoas (muitas delas más). Existem coisas boas e ruins – seu nome era prova disso - mas o que não podem faltar são os amigos. Os verdadeiros amigos são joias preciosas, devem ser cuidados carinhosamente. E ela tinha uma amiga valiosa que pretendia manter por toda sua vida.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Bananas Flambadas com Sorvete de Creme

O dia estava lindo, mas por dentro ela estava totalmente nublada. Sua alma estava cinzenta, seu espírito alagado. Então Thais se levantou, tentou ler um pouco e, quando já não agüentava mais, derramou-se em lágrimas. Foi impossível conter-se, as lágrimas simplesmente brotavam e, em segundos, ela estava chorando copiosamente. Estava infeliz, insatisfeita. Não Sabia onde perdera o rumo, nem se podia melhorar as coisas com uma única ação. Mas não importava, pois não tinha a mínima ideia de que decisão tomar. Qual seria a atitude correta para melhorar as coisas.

O telefone já tinha tocado várias vezes. Recebeu alguns convites os quais, normalmente, não declinaria. Mas não naquele dia. Não estava em condições de encarar programas sociais. Tomou um belo banho e se arrumou. Ligou para Bruno e quando se viu estava programando um almoço. Foi a melhor coisa que fez, tomaram umas cervejinhas, comeram bem e riram muito, muito mesmo. Naquele almoço tomou uma decisão: viajaria nas férias, independente da decisão que tivesse que tomar para encontrar o rumo em sua vida.

Antes de saírem do bar, Bruno, que já havia percebido a tristeza de Thaís derramando uma ou outra lágrima de vez em quando, disfarçadamente chamou o garçom e pediu sorvete de creme com bananas flambadas. Um docinho é sempre bom para levantar o astral.

Bruno lembrava-se bem da vez em que Thaís preparou essa mesma sobremesa para eles, usou:
2 bananas cortadas em fatias ou rodelas
1 xícara de açúcar
1 colher de sopa de manteiga
Raspas de limão
1 cálice de cachaça, rum, conhaque ou outra bebida (clara) que tenha em casa
1 copo de suco de laranja (opcional)

Derreteu a manteiga e dourou levemente as bananas, acrescentou as raspas de limão, uma pitada de canela e o açúcar até derreter. Nesse ponto adicionou o suco de laranja até virar uma calda. Colocou a cachaça e flambou (virou a panela na chama do fogão para pegar fogo) e mexeu até o fogo da panela se apagar. Depois, serviu uma bola de sorvete de creme e colocou as bananas por cima. A mistura da calda com as bananas e o sorvete fez daquela sobremesa  tão simples, um manjar dos deuses. Era perfeita: leve e deliciosa!

Dá pra  ver o fogo
flambando as bananas...
 
Quando a sobremesa chegou à mesa, Thaís mal pode acreditar. Seus olhinhos brilhavam tanto. Com a boca cheia d’água literalmente atacou o sorvete com as bananas. Estava tudo perfeito! O sabor era quase o mesmo de quando ela fazia aquela sobremesa. Bruno acertou em cheio: nada melhor para melhorar os ânimos que boa companhia, regada a cerveja gelada, com muita risada e uma deliciosa sobremesa. É, Thaís ainda não tinha a menor ideia do que fazer com sua vida, mas pelo menos por aquele domingo sentia-se mais leve e tranqüila. Várias coisas na vida valem a pena, só era preciso descobrir por onde seguir. E ela faria isso!