terça-feira, 17 de maio de 2011

Tiramissu originalmente italiano

Vira e mexe Maria Rita lembrava-se daquele episódio estranho e, silenciosamente, agradecia a Deus por poder enxergar. Pegou o diário e abriu no dia 12/10/01, começou a ler: Naquele dia eu acordei e meus olhos não viam nada. Buscava, procurava, abria e fechava os olhos e, no entanto, nada via. O desespero foi tomando conta de mim e, aos poucos, uma espécie de dor foi me consumindo e queimando meu interior. Uma dor profunda por não poder ver as cores, as luzes, imaginando que não poderia ver mais os olhos e seus olhares, as atitudes. E a coisa que mais gostava de fazer, a alquimia dos alimentos, a mistura dos ingredientes nas panelas, nas bacias, aquela confusão gostosa e organizada que acontece na cozinha, estaria comprometida. Eu estava cega? Não! O que teria acontecido? Decidi ligar para o médico para investigar o que poderia ter acontecido, estava tudo normal quando fora dormir na noite anterior.

Cuidadosamente levantei-me e, tateando, dirigi-me ao banheiro. Fiz a higiene matinal e lavei os olhos vigorosamente, como na esperança de poder tirar o que estava me impedindo a visão. Sem resultado. Andando vagarosamente pela casa, alcancei o telefone, mas não conseguia lembrar-me do número do consultório. Peguei o celular e liguei para o marido: - Renato, não estou enxergando nada. Sua reunião acabou? Preciso que você me leve ao médico. Você pode vir agora? - Falava uma frase após a outra, sem pausas para respirar ou para deixar o marido falar. Renato saiu do escritório feito uma bala, dizendo que já estava a caminho de casa e pedindo para que eu me acalmasse.

Era sexta-feira e tinha me programado para fazer um Tiramissu com aquela receita originalmente italiana que trouxera de uma deliciosa visita a Roma. Quando provara o doce – não tão doce assim – pela primeira vez, senti-me no paraíso: a combinação perfeita de sabores e a textura leve resultantes daquela mixagem culinária, pareceram-me um pedacinho do céu.
Lembrava-me da receita fornecida por Mamma Giullia, dona da cantina à esquina da rua onde ficava o hotel em que me hospedara. Nem era casada ainda:
  • 2 gemas
  • 1 clara em neve
  • ¼ xícara de açúcar
  • 250g de queijo mascarpone
  • ½ pacote de biscoito champagne
  • café forte e frio para umedecer os biscoitos
  • 1 a 2 cálices de licor de amêndoas

Bata as gemas com o açúcar vigorosamente até formar um creme esbranquiçado. Acrescente o mascarpone e incorpore a clara. Se gostar do sabor do licor mais acentuado, misture metade do licor nesse creme. A outra metade misture ao café.

Para montar umedeça os biscoitos na mistura de café e licor e forre o fundo da forma. Cubra com metade do creme. Coloque outra camada de biscoitos e finalize com uma camada de creme. Leve à geladeira por aproximadamente 4 horas e, na hora de servir, polvilhe uma fina camada de cacau em pó peneirado.
  • Si te voglie fare um dolce per molta genti, duplica la ricetta! - Dissera Mamma Giullia com todo o corpo e um largo sorriso que ainda podia visualizar.

Da primeira vez em que testei essa receita, foi num almoço na casa da minha amiga Adriana. Fizemos um ravioli como prato principal e Tiramissu de sobremesa. Por não gostarmos muito de café, usamos um café fraco para não acentuar o sabor. Também por isso, substituímos os biscoitos champagne por biscoito maisena de chocolate. Ainda lembrava-me da sensação celestial que tivera ao provar o doce. Fora levada de volta à Roma através do paladar. Já na primeira colherada fora capaz de ver em cores toda a cantina da mamma e aquele burburinho italiano do qual fizera parte por 7 prazerosos dias.

Quando Renato chegou em casa, encontrou-me dormindo no sofá repetindo: -”Tiramissu. Tiramissu. Preciso enxergar o Tiramissu”. Renato achou graça e com uma vigorosa gargalhada e um beijo na testa despertou-me de meus doces sonhos. Ao abrir os olhos e ver Renato parado e rindo a minha frente, não consegui entender nada. Será que havia mesmo acordado sem enxergar? Ou simplesmente estava delirando e tudo não passou de um sonho? Não sabia. O que sabia era que naquele momento faria o Tiramissu para sobremesa do jantar e se deliciaria não só com o sabor, mas principalmente com a bênção maravilhosa de poder enxergar. Agradeci a Deus pela sua saúde perfeita. Beijei meu marido carinhosamente e corriu até a cozinha para colocar as mãos na massa. Aquela noite tinha um sabor visivelmente diferente das outras.

Obs.: Fizemos esse tiramissu na casa da Dri (aquela minha amiga de infância) e foi um sucesso. Nas outras receitas que pesquisamos, as pessoas usam qualquer tipo de bebida alcoólica desde uísque até cachaça, usamos o licor de amêndoas porque queríamos a receita original, e faz diferença. Vimos várias receitas informando que o queijo mascarpone pode ser substituído por cream cheese e creme de leite fresco, pois o verdadeiro mascarpone custa muito caro. Mas já havíamos substituído os biscoitos e enfraquecido o café, optamos por usar o verdadeiro queijo e o licor de amêndoas para não nos distanciar muito da receita original.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Talharim aos queijos

Chegou em casa depois da aula às 12:30h. Abriu a geladeira e deparou-se com a realidade dos solteiros que ‘optam’ por morar sozinhos: um vazio só. Não tinha nada naquela geladeira! Resolveu usar a criatividade e ver no que ia dar.

Precisava de uma receita prática que não usasse ingrediente algum e resultasse num prato deliciosamente saboroso e matar sua vontade de comer “uma coisa”. Era assim que dizia quando tinha vontade de comer algo muito gostoso, mas não sabia exatamente o que. E era isso o que desejava naquele momento: algo delicioso!

Foi fuçando as prateleiras e conseguiu levantar os seguintes ingredientes: 200g de talharim fresco – só que estava congelado; ½ triângulo de queijo gorgonzola que sobrou da noite de queijos e vinhos que preparou para o namorado; +- 50g de queijo parmesão que tinha ralado para o risoto que fez para a mãe; 2 colheres de creme de leite fresco – que a essa altura do campeonato de fresco não tinha mais nada, pois estava na geladeira há mais ou menos uma semana; castanhas de caju; 1 garrafa de vinho tinto seco carmenere que estava gelando há dias (isso combinava? Ah, teria de combinar).

Colocou a água para ferver e adicionou sal. Não gostava de colocar um fio de óleo na água do macarrão desde que havia lido não se lembrava onde havia lido que o óleo não permite que o molho se incorpore muito bem à massa.

O interfone tocou. Como assim o interfone tocou? Não estava esperando ninguém! E tinha planos para aquela tarde, havia planejado tudo meticulosamente: depois do almoço lavaria as louças, organizaria a casa e se deitaria para ler um bom livro e tirar aquele cochilo. Estava planejando isso há dias! Ficou na dúvida se deveria ou não atender, mas acabou sucumbindo ao toque irritante daquela campainha. Quem poderia ser?
  • Oi.
  • Oiê! tudo bem?
  • Quem é?
  • Sou eu, Luís, oras quem é?!
  • Que Luís?
  • Ê, vai começar de brincadeira é?
  • Olha Luís, sinceramente eu acho que você tocou na casa errada. Eu não conheço nenhum Luís.
  • Mas aí não é a casa da Graça?
  • Não, Luís, aqui não é a casa da Graça.
  • Mas não é do 803?
  • Não, é do 703!
  • Ah tá, desculpa!
  • Tudo bem.

Quando voltou-se ao fogão, a água já estava fervendo. Colocou a massa - apenas metade do pacote, poderia precisar de uma outra vez – e marcou 8 minutos no temporizador. Acabado o tempo, retirou a massa, lavou em água fria e começou a fazer o molho. Derreteu uma colher de sopa de manteiga e passou o talharim. Adicionou metade do queijo gorgonzola e quando este começou a derreter juntou o creme de leite fresco. Acrescentou metade do parmesão e desligou o fogo. Nesse momento colocou as castanhas de caju picadas grosseiramente.

Colheu algumas folhas de manjericão do pé que mantinha na varanda, serviu uma taça do vinho tinto que estava na geladeira. Sentou-se em frente à TV e, como não tinha nada que prestasse passando, ligou o DVD e colocou Sem Reservas para ver de novo.

Deu a primeira garfada no talharim e o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça foi: Como podia ficar tão boa uma massa quase sem ingredientes? Sinceramente, não faltava nada. Ao terminar de comer, deitou-se no sofá onde adormeceu pelo resto da tarde deixando as louças, a casa e o bom livro para um outro momento. Um momento em que não estivesse curtindo um cochilo tão gostoso.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pasteis de Caranguejo e Carne Seca à São Luís

Praia Calhau Litorânea
Pisei os pés na ilha do amor pela primeira vez em 2001. Tinha acabado de me formar e a turma queria uma festa tipo baile. Eu, como nunca fui fã desse tipo de festa e estava me formando em turismo, decidi que iria juntar a grana e fazer uma viagem para um lugar que não conhecesse.

Eu e Kátia Maria
Ouvia falar de São Luís do Maranhão desde os meus 12 anos quando conheci Kátia Maria. Maranhense apaixonada e convicta falava de São Luís como se fosse a 8ª maravilha do mundo. Ficamos amigas e trocamos cartas por anos, era a hora certa de ir conhecer a cidade e rever uma velha amiga.

A minha primeira impressão foi deliciosa. É uma ‘cidade do interior’, encantadora! Depois dessa ida, voltei à São Luís inúmeras vezes. O mar de São Luís é diferente, a água tem um tom amarronzado, estranho. Mas a água é salgada do mesmo jeito e mar é mar com areia e praia e barracas e água de coco e ostras e caranguejos e tal.

Márvio e Eu no Reviver
Todas as vezes em que voltei à ilha, tive experiências gastronômicas e turísticas deliciosas, mas foi na minha lua de mel que conhecemos o restaurante ‘Maracangalha’ situado na Av. Litorânea, de frente para o mar. Pedimos um peixe com um molho diferente que estava delicioso, mas a experiência gastronômica marcante dessa viagem, foram os pastéis que pedimos de entrada.

Eram mini pastéis recheados com carne de caranguejo e com carne seca acompanhados de geleia de pimenta. Uma ‘coisa’! Super fácil de fazer e ótimo petisco para acompanhar uma cerveja bem gelada.
Quando voltamos à Brasília encontramos a carne de caranguejo na feira a um preço razoável. Compramos 200g. Refoguei com cebola e tomate picadinhos e coloquei ervas aromáticas. Ao final acrescentei cheiro verde.

Para o recheio de carne seca precisamos de 200g de carne de charque dessalgada e desfiada. Refoguei com cebola e tomate picadinhos e deixei ficar pouco caldo, grosso.

Comprei massa de pastel pronta, recheei os pasteis e assei - viciei em pastel assado porque é mais light e mata a vontade de comer pastel do mesmo jeito, só que ao invés de pincelar a massa com gema de ovo, gosto de usar azeite - em forno preaquecido em 200º até ficarem dourados.


A geleia de pimenta trouxemos de São Luís e sempre que alguém vem de lá, encomendo para matar saudades, mas é possível encontrar nos grandes mercados. A combinação fica perfeita! Depois dessa experiência já fiz esses pasteis com recheios variados – o de calabresa com queijo mussarela fica delicioso - mas a geleia de pimenta não tem substituta: tem que ser ela e pronto! Você vai entender se resolver testar essa receita.