domingo, 19 de junho de 2011

Tartare de Haddock Defumado

Quando Irene entrou no shopping, o circo já estava armado: havia um 'cercadinho' com mesas e cadeiras no centro, e uma bancada de cozinha improvisada com vários utensílios e apetrechos. À entrada gritavam duas mulheres palavras de baixo calão, quase estapeando-se. O rapaz da organização do evento - um workshop gourmet com os mais famosos chefs da cidade - tentava, em vão, apaziguar a discussão cujo motivo ele desconhecia. Tinha algo a ver com o número de vagas, quem iria ou não entrar para participar do mini curso ou coisa parecida, ao que Irene pode entender.

Quando chamou a próxima da lista, Vânia, pela segunda vez, e ninguém se manifestou, Irene, que não estava inscrita, aproveitou a deixa e seguiu até o pequeno balcão. Segura de si, identificou-se como Vânia de Melo Soares, assinou a lista de presença e seguiu para uma cadeira vaga na segunda fileira do lado direito. Sentou-se, acomodou a bolsa no encosto da cadeira e aguardou ansiosa o início da aula.

O chef - parecia ter no máximo 35 anos - apresentou-se como chef de um grande restaurante francês da cidade e disse que trabalhava na área desde os 18 anos. Irene, tão perdida que estava em sua vida, olhara para ele e pensara 'porque a vida não lhe dera essa oportunidade de se encontrar, profissionalmente, tão cedo?'. Então o chef apresentou a primeira receita: Tartare de Haddock defumado. - O que era um tartare? pensou Irene. Quem era o Haddock?  Será que daria para fazer isso para o jantar naquela noite? - É, realmente não sabia se estava no lugar certo.

Surubim defumado
Enfim descobriu que Haddock era um tipo de peixe do Pacífico Norte de sabor suave que, no Brasil, poderia ser substituído pelo Surubim. E que Tartare era um tipo de entrada que poderia ser servido com salada ou torradas. Poderia ser servido inclusive no próximo encontro de amigos, que faria em sua casa na noite seguinte, pensou. Mas não para o jantar dessa noite definitivamente.

Os 500g de haddock poderiam ser encontrados na feira ou nos grandes mercados segundo informações do chef. As outras coisas: 1 manga, 1 xícara de morangos, 1 kiwi, 1 cebola média, 1 pimenta dedo de moça vermelha, 2 limões sicilianos, poderiam ser encontradas nos mesmos lugares.

A receita era simples, deveria cortar tudo em cubos pequenos, misturar tudo em uma tigela e, na hora de servir, temperar com o suco dos limões, azeite e sal à gosto.

O chef serviu em um copo bem pequeno de vidro, pouco maior que uma xícara de café, acompanhado de salada de alfaces variadas. Quando Irene experimentou o tal Tartare, sentiu um misto de prazer e alegria. A textura macia do peixe e das frutas, o combinado do sabor defumado com o doce... Ficou sem palavras! Sim, definitivamente serviria aquela delícia para os amigos na noite seguinte. Teria de correr para encontrar o tal peixe, mas iria valer a pena.

Quando deixou o 'cercadinho', a briga já havia terminado. Soube pelo rapaz que organizava o evento e estava na entrada que uma daquelas senhoras identificou-se como Vânia antes de ir embora, mas que depois da confusão - pois chegaram a estapear-se e rolar pelo chão numa louca confusão de beliscões e puxões de cabelo que precisou da intervenção da segurança do shopping - não se sentia à vontade para participar da aula e decidiu, com toda a classe não lhe cabia, partir.

Irene saiu do shopping correndo. Pegou o metrô até em casa e esquentou uma sopa que havia feito na noite anterior. No dia seguinte, resolveu que faria um peixe assado como prato principal. Serviu o Tartare de Surubim (que era mais barato que o Haddock) defumado em potinhos de louça pretos e brancos, sem o acompanhamento de folhas. Decorados com manjericão fresco. E o peixe assado com um tempero bem suave. A noite foi um sucesso! Os amigos elogiaram  tudo, mas quiseram saber especialmente o que era aquele tartare e onde Irene havia aprendido a receita.

Irene contou toda a história e a noite que já estava animadíssima, recheou-se com as gargalhadas do grupo e a alegria que enchia o ambiente. Irene sentiu-se imensamente abençoada por ter tantos amigos queridos. E aquela noite, demorou a terminar. Regado a muito vinho o Tartare e a história de Irene foram as celebridades da noite.  

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Spicy coxinhas da asa

Lucinha passou correndo pelo portão do edifício onde morava. Já estava muito atrasada para o jantar a dois que tinha combinado com o marido. Esbaforida entrou no hall e bum, escorregou no piso molhado! Não tinha visto a placa de advertência - aquela amarelinha informando: Cuidado, piso molhado! – Caiu de bunda no chão. Pacotes para um lado, bolsa para o outro, uma confusão só.

Desajeitada começou a catar as coisas espalhadas pelo chão. O rapaz da limpeza, que minutos antes não sabia se ria ou se corria em socorro da moradora, mais que depressa largou o rodo e começou a catar as coisas e colocar na bolsa de compras de Luisa que, toda sem graça, agradecia a cada instante. Ele ajudou-a a se levantar e segurou a porta do elevador para que ela entrasse.

Quando levantou o olhar e deparou-se com a figura no espelho, Lucinha não pode controlar o riso. Soltou uma deliciosa gargalhada lembrando-se do tombo e vendo os cabelos desgrenhados e a maquiagem borrada devido às lágrimas que lhe caíam dos olhos de tanto que ria. Entrou em casa ainda gargalhando quando se deparou com o marido com uma cara de bode que significava “Qual é a graça?”.

Cheia de bom humor, Lucinha então começou a narrar os acontecimentos, o motivo do atraso e, enquanto ambos riam juntos retirou da geladeira as coxinhas da asa – 12 - que havia temperado antes de sair com 3 dentes de alho bem amassados, 2 colheres de sopa daquela sopa de cebola de pacote, uma pitada de sal e molho de pimenta bem forte à gosto. Depois de 1 hora, acrescentou 1 latinha de cerveja e 4 fatias de gengibre e deixou marinando por mais 1 hora.

Retirou 1 latinha de cerveja na geladeira, pegou as canecas do freezer, serviu a cerveja e chamou o marido. Fizeram um brinde ao amor e Lucinha se pos a cozinhar as coxinhas. Aqueceu uma panela e colocou as coxinhas dentro. Sem óleo. Até dourarem. Nesse momento acrescentou o molho da marinada e tampou a panela por aproximadamente 15 minutos. Destapou a panela e de vez em quando mexia. Repetiu esse procedimento até que o molho reduzisse por completo.

Organizou a bandeja com um prato contendo as coxinhas, molho de mostarda e molho de queijo feito com 1/3 de triângulo de queijo gorgonzola e 3 colheres de creme de leite fresco. Amassou o queijo e misturou vigorosamente com o creme de leite. Para o molho de mostarda usou 2 colheres de sopa de mostarda, 2 colheres de sopa de creme de leite, suco de ½ limão e 1 pitada de pimenta do reino branca.

Aquela noite estava apimentadíssima, restava agora a ambos exercitarem a criatividade para deixá-la ainda mais deliciosa. Quando Renato experimentou a primeira coxinha, o sabor e a textura do frango podiam ser mensurados em sua feição. E aquele toque de pimenta então? Delicioso! Estava escrito na cara dele, literalmente! O prato foi aprovado e Lucinha restava feliz, conversando bobeiras com o marido e rindo infinitamente, cercada de beijos e regada a cervejinha bem gelada. A noite foi perfeita! 

domingo, 5 de junho de 2011

Ravioli ao molho de abóbora com gengibre e alecrim

- Então está combinando assim mesmo: você chega amanhã às 8:45h no aeroporto e vai ficar aqui em casa?
- Sim – disse a amiga.
- Ótimo, vou me organizar para te buscar e preparar um almoço digno desse tão aguardado reencontro. – Bradou Luisa demonstrando uma felicidade alegórica.
- Perfeito. Temos muito que conversar, isso pede um prato daqueles bem gostosos no qual possamos gastar horas. – Falou a amiga desenrolando uma deliciosa gargalhada que Luisa conhecia bem. – Um beijo e até amanhã.
- Outro. E boa viagem. Qualquer coisa liga tá? – disse já colocando o telefone na base.
Ao desligar o aparelho, Luisa começou a pensar no que poderia fazer para comemorar aquele momento.  Não era só uma ocasião especial, era um momento pelo qual ambas aguardavam há séculos. As amigas de infância separaram-se por um desejo do destino, ou do coração de Luisa quando optou por largar tudo e ir em busca do seu sonho dourado: conhecer outras culturas. Quando optou por ser cidadã do mundo sabia que demoraria para reencontrar as pessoas queridas novamente, mas seu coração estava gritando por aquele movimento, o que mais poderia ter feito?

Precisava de uma receita leve, pois sabia o quanto ambas comeriam naqueles dias. Também de preferência uma receita que não levasse carne, pois Amanda não era o mais carnívoro dos seres. Foi então que lembrou-se de uma receita que estava louca para testar havia meses: Ravioli de gorgonzola ao molho de abóbora com gengibre e alecrim. Sim, essa seria a receita ideal para aquele momento. Folheou o livro de receitas e foi anotando os ingredientes de que precisaria:

·         300g de ravióli de gorgonzola                                                        
·         250g de abóbora picada
·         1 caixinha de creme de leite
·         1 colher de gengibre ralado (fino)
·         1 ramo de alecrim (ou mais a gosto)
·         1 cebola pequena picada em cubos
·         1 colher de azeite de oliva
·         Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto

1 garrafa de um bom vinho rosè para acompanhar. – Embora o vinho rosè não houvesse sido indicado por nenhum sommelier, Luisa e Amanda haviam conversado sobre ele no último encontro – que ocorrera uns 4 anos antes – e ambas concordaram em experimentar um rosè, juntas no próximo encontro: o atual.

Saiu em busca dos seus ingredientes. Encontrou praticamente tudo, menos o ravióli de gorgonzola. Procurou pela cidade inteira, em vão. Pensou em fazer a massa, mas ainda tinha que organizar a casa para receber a amiga. Não teria tempo. Então resolveu levar um de mussarela de búfala que a vendedora lhe estava ofertando naquele momento.

Chegou em casa e, servindo-se de uma taça de vinho tinto, repassou a receita. Ferva 2 litros de água com sal. Coloque os raviólis quando a água estiver fervendo e deixe por 8 minutos. Depois retire-os, lave-os com água fria e reserve.

Coloque a abóbora numa panela com água até cobri-las e deixe ferver. Quando a abóbora estiver macia, desligue o fogo e bata tudo no liquidificador até ficar bem batido, sem pedaços. 
Refogue a cebola no azeite. Quando começar a murchar acrescente o gengibre e mexa por uns 2 minutos.

Adicione o molho de abóbora, mexa e deixe ferver em fogo médio. Quando o molho começar a reduzir, baixe o fogo, adicione o alecrim, o creme de leite e acerte o sal e a pimenta. Coloque os raviólis no molho e mexa com cuidado para não quebrarem. Deixe no fogo baixo por alguns minutos até ficarem aquecidos. Sirva em seguida acompanhado de queijo ralado na hora.
Esse foi o da casa da Dri.
Ficou fantástico!

Sem dúvidas essa era a receita. Teria que conseguir esperar até o dia seguinte para preparar tudo, mas estava com coceira para começar naquele momento. Então, agarrou as chaves do carro e partiu em direção ao shopping: assistir a um cinema agora seria a melhor solução para fazê-la esquecer daquela receita por alguns instantes. O suficiente até a amiga chegar e elas poderem se deliciar com aquele manjar.

Obs.: Essa receita foi testada por mim e pela Dri (minha amiga de infância de tantas outras receitas), no mesmo dia do Tiramissu, e foi baseada numa receita de sopa oferecida pela minha amiga Aninha. Ficou simplesmente dos 'deuses'. Vale super a pena experimentar.