O
perfume doce e marcante da banana que vinha lá de dentro era delicioso. Selena
ficou ali, do lado de fora da casa, com a cabeça enfiada na janela, quase se
jogando dentro do salão daquela casinha branca de janelas marrons, em uma das
quatro ruas de Jericoacoara. O que lhe chamara a atenção, fora mesmo o aroma
que vinha de lá.
A princípio era apenas um cheiro
gostoso e adocicado que tomava conta de toda a rua. Mas quanto mais se
aproximou, os perfumes iam se apresentando um após o outro, e instigando o paladar
de Selena. Conseguiu detectar o familiar aroma de banana, mas havia algo mais:
o aroma era doce, amanteigado, tinha um leve toque de canela. Sim, tinha
canela.
Quando não se aguentou mais bateu
palmas desesperadamente pela janela e ficou a espera de alguém que pudesse lhe
esclarecer o que exalava um perfume tão saboroso. Logo apareceu uma mocinha:
magrinha, pequenina, loira e bem feita de corpo que com seus olhos bem verdes
assustou-se ao ver Selena sentada no beiral da janela com as pernas já dentro
do salão.
Pois não? - perguntou a moça,
educadamente.
Bom dia! - disse Selena sorrindo. -
Esse cheiro delicioso que me trouxe da rua até aqui é de que?
Ah, o cheiro de banana? É da torta.
Torta é? Hummmm e é pra vender?
É. Mas estamos fechados no momento.
Essa é encomenda.
Sei. Mas você não pode me vender essa
torta e fazer a outra da encomenda?
Na verdade não, porque se o cliente
chegar e a torta dele não estiver pronta, é ruim pra gente.
Selena não queria saber, precisava
comer daquela torta. O cheiro de banana já havia entranhado por todo o seu ser
e ela já podia sentir o sabor mesmo antes de experimentar. Então arriscou:
Será que você não teria pelo menos um
pedaço para me vender? Para eu experimentar? É porque esse cheiro está
deliciosamente gostoso e eu realmente gostaria de provar essa iaguaria.
A menina sabia com o que estava
lidando. Não raro pessoas paravam à janela para perguntar o que era aquilo que
cheirava divinamente bem ou se não havia torta para vender e sempre lhes
informava o horário de funcionamento e, com muito jeito, pedia que voltassem
mais tarde quando poderiam ser servidos da melhor maneira possível. Mas daquela
vez, não sabia bem o porquê, simpatizou com aquela mulher sentada na janela e
lhe serviu um pedaço que havia guardado para uma amiga que viria lhe visitar
mais tarde.
Ao dar a primeira mordida no pedaço de
torta, Selena teve a sensação de estar flutuando. O sabor da banana bem doce,
polvilhada com canela e acentuada com o sabor da manteiga que não sabia bem se
vinha da massa ou da própria banana era perfeito. E aquela massa macia que
desmanchava na boca fazendo suas pupilas gustativas entrarem em festa: Uau! Que
torta maravilhosa! Menina, que horas mesmo você me disse que a loja abre? Tenho
que trazer meus amigos aqui.
Desmanchando-se em agradecimentos e
perguntas, Selena não parava de falar. E a menina, olhando-a fixamente não
entendia bem porque as pessoas sempre reagiam daquela maneira. A torta era a
coisa mais simples que ela já havia feito em toda a sua vida, chegava mesmo a
ser bestinha, mas todo mundo se maravilhava com o resultado. Ficou pensando nos
ingredientes e enumerando o passo a passo mentalmente para ver se descobria o
motivo:
100grs manteira em temperatura ambiente
1 ovo grande
1 xícara de açúcar;
1 colher de sopa de fermento;
2 xícaras de farinha de trigo;
bananas cortadas em fatias ao longo do comprimento e canela
a gosto.
Formar uma massa com as mãos até ficar homogênea, forrar uma
assadeira (não precisa untar), dispor as bananas colocar açúcar e canela, levar
ao forno.
Não... não tinha nada de mais nessa
receita. Era simples. Fácil. Com ingredientes comuns, do dia a dia. A diferença
era que antes de colocarem as bananas sobre a torta, elas passavam as bananas
na frigideira com um pouquinho de manteiga. Sem deixar fritar, só dourar um
pouco, para acentuar o sabor da banana. Depois polvilhavam canela sobre as
bananas e levavam a torta ao forno pré-aquecido em 200º por aproximadamente 30
minutos ou até o palito sair limpo. Só se essa passadinha da banana na manteiga
fosse o segredo.
Realmente, era muito besta aquela
receita. Então, Marilene lembrou-se de quantas tortas ainda tinha que fazer,
quanto trabalho ainda tinha pela frente e do horário que avançava nada
lentamente e deixou os pensamentos de lado e despachando Selena gentilmente,
retomou os ingredientes, colocou na bacia e pôs-se a amassar. Dali a pouco, os
clientes começariam a chegar, mais encomendas a entregar e a loucura tornaria a
se instalar!
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