domingo, 10 de abril de 2011

Antepasto de Pimentões Vermelhos regados à adolescência

Tinha mais ou menos uns 14 anos quando a mãe a chamou para ir a uma reunião na casa de uma amiga. Era uma reunião das coroas, não ia ter nada que lhe interessasse. Mas resolveu ir, não tinha nada a fazer e gostava muito da Vera, a amiga da mãe.

Lá chegando constatou - como havia imaginado - que nada haveria de bom para ela naquela noite. E logo começaram aquelas conversas que sempre temos que enfrentar quando as amigas das nossas mães se encontram:
- 'Nossa, essa já é a Joana? Como está crescida!' - dizia uma.
- 'Joana, que linda. Uma moça feita né?' - dizia outra.
E lá vinha mais uma: ‘Gente, o tempo passa muito rápido mesmo, foi outro dia que te segurei no colo!’ - A pobre Joana sorria para uma e outra, desconcertada e desejando que aquele momento de tortura chegasse ao fim e as ‘coroas’ mergulhassem em algum papo da juventude e a deixassem em paz.

Perdida em meio aquelas considerações, mergulhou de cabeça na única coisa que poderia fazer: comer! E deu a experimentar tudo o que havia nas mesas. Uma fatia de bolo ali, um pãozinho aqui, um pouquinho desse caldo, uma torta salgada, outra doce... E divertia-se entretida naquele mundo tão delicioso. Lá pelas tantas se deparou com uma compota salgada de uma coisa vermelha, algo parecido com tomate em fatias, mas com um sabor diferente. Colocou um pouco sobre uma fatia de pão e degustou. Nossa, que coisa boa! Sentou-se ao lado daquela mesinha de canto e, sozinha, entregou-se ao prazer da degustação daquela delícia gastronômica esquecendo-se de tudo o mais.

A mãe, que passara a festa toda acenando e sorrindo de longe enquanto colocava a conversa em dia, enfim a encontrou e perguntou: tudo bem?
- tudo.
- Já quer ir embora?
- Pode ser.
- Então vamos ficar mais um pouquinho?
- Pode ser. Mãe?
- Oi.
- Já que vamos ficar mais um pouquinho, você poderia perguntar à Vera como ela faz isso? É bom demais! Acho que é com tomate. Sei que tem cebola, alho, orégano, azeite...
- Combinado.- disse a mãe servindo-se de um pouco da compota que visivelmente aprovou e voltando-se à companhia das amigas.

Um pouco mais tarde a mãe lhe chamou para ir embora, e, ainda à porta, Joana não se conteve e perguntou:
- Você perguntou pra ela?
- O que filha?
- A receita...
- Ah, Vera, a Joana quer saber como você faz aquela compota de tomate.
A menina quase morreu de vergonha. Precisava perguntar assim, na cara dela?! Deu um sorriso amarelo e desviou o olhar.
Então a Vera disse: Gostou foi Joana? Não é tomate não, é antepasto de pimentão vermelho. Presta atenção, é super fácil: Depois de lavado, coloque um pimentão vermelho inteiro no forno para assar até que a casca desprenda. Aproximadamente 20 a 30 minutos, na temperatura baixa. Depois retire a casca, corte em fatias finas e coloque numa vasilha. Adicione uma cebola pequena cortada em tiras, 2 a 3 dentes de alho laminados, azeite o suficiente para deixar a mistura úmida e sobrar um pouco e especiarias. Nesse usei orégano e manjericão, mas você pode usar o que quiser.
- Obrigada Tia Vera!
- De nada minha flor!
Beijaram-se cordialmente despedindo-se.

Passaram-se os anos e Joana nunca fez a receita, como também nunca a esqueceu. Agora, mulher casada, chegou em casa um dia após o trabalho e resolveu testar. Quando estava quase acabando, viu que não tinha alho. Ligou para o marido, que ainda não havia voltado do trabalho e lhe pediu para comprar uma cabeça de alho. Deixou a mistura pronta, e por não ter orégano usou as ervas que cultivava na mini horta da varanda do apartamento: endro, manjericão e alecrim frescos e um pouco de tomilho. Quando o marido chegou, laminou os dentes de alho e acrescentou. Serviu uma porção numa fatia de pão e ofereceu ao marido que dispensou vários elogios em aprovação.

Depois, sentou-se calmamente no sofá com sua fatia de pão recheada da compota e degustou-a lentamente como fez anos atrás. A mesma textura de que se lembrava, a mistura homogênea de temperos. Aquele sabor que ficara gravado em sua memória, lá estava em suas mãos. Por alguns instantes foi levada de volta ao apartamento da tia Vera tomada por um prazer agradável. E foi naquele momento que decidiu não mais se eximir de praticar aquela receita várias e várias vezes para imergir-se em momentos tão deliciosos.

Obs.: Essa estória é baseada em fatos reais. :)

2 comentários:

  1. Obs.: Essa estória é baseada em fatos reais. :)
    Que dúvida, não? Nem te conheço pra saber...

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  2. Oi Cinthia :)

    Muito legal seu blog, depois venho aqui pegar umas receitas!

    Beijos, Renata

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