terça-feira, 20 de setembro de 2011

Bacalhau de resoluções


Flávia não sabia o que fazer. A ansiedade estava consumindo-a por completo. Gostaria de saber o que fazer com sua vida. Que caminho tomar, por onde seguir. Resolveu tomar uma atitude: fez um check list das coisas a fazer, revisou sua vida umas 30 vezes, repassou seus erros e acertos outras 70 vezes e ainda assim não conseguia se encontrar.  Estava totalmente perdida. Resolveu então fazer a única coisa que lhe acalmava: cozinhar!

Lembrou-se do bacalhau em lascas que havia deixado de molho na geladeira no dia anterior. Retirou o peixe da geladeira - eram mais ou menos uns 500g - pegou também 2 cebolas médias, 6 batatas médias, páprica doce, alecrim, vinagre branco, sal, alho e pimenta do reino a gosto. Azeite, muito azeite.
Ligou para a mãe e para Bruno convidando-os para o almoço e separou duas garrafas de um belo vinho tinto da geladeira, para a adega.

Secou as lascas de bacalhau e passou-as por um pouco de farinha de trigo, depois fritou-as em pouco azeite por aproximadamente 5 minutos, até ficarem douradas. Reservou. Depois, na mesma panela fritou as cebolas, quando elas murcharam acrescentou 2 colheres de sopa de vinagre e páprica a gosto até dourarem. Reservou.

Furou as batatas com um garfo e colocou no microondas por 8 minutos em potência alta. Quando estavam macias, cortou-as em rodelas e - na mesma panela onde tinha fritado o bacalhau e as cebolas - fritou as batatas em azeite e acrescentou o alecrim. Acertou o sal e juntou o bacalhau e as cebolas. Mexeu para incorporar todos os ingredientes e desligou. Serviu numa travessa.  

Enquanto aguardava seus convidados, abriu uma das garrafas de vinho e serviu-se de uma taça. Estava no ponto. Sentou-se no sofá e pôs-se a pensar na vida: todos os lugares pelos quais sonhou passar, as delícias que gostaria de experimentar, as possíveis pessoas que conheceria... Diferentes culturas, belas paisagens. Era tanta coisa nesse sonho que não cabia em seus pensamentos. Pegou o caderno que havia comprado para esse fim e começou a escrever sobre seus sonhos e desejos.

Estava tão perdida em seus pensamentos que nem ouviu a campainha soar. Só se deu conta quando os telefones começaram a tocar juntamente com a campainha e o interfone numa sinfonia absurdamente incômoda. Olhou para o relógio e entendeu que mais uma vez havia se perdido naquele mundo de desejos. Um dia, um dia entenderia porque tanto amor pelo mundo sem ao menos conhecê-lo.

Abriu a porta, atendeu ao interfone e ao telefone ao mesmo tempo. Era hábil para fazer várias coisas ao mesmo tempo. Dona Cilene entrou primeiro, pois Bruno havia descido para tocar o interfone. Ficaram conversando até que ele subisse. Serviu vinho aos convidados e, após alguns minutos, serviu o bacalhau que estava sinceramente saboroso. A combinação dos temperos acentuaram o sabor do peixe, a textura do bacalhau estava ótima e aquelas cebolas eram uma coisa sem comparação. A perfeição do sabor pode ser vista no rosto dos seus convidados. Serviu com arroz integral e uma salada de alface americana, tomates cerejas, manjericão fresco e queijo minas temperada com limão, azeite e sal.

Elogios não faltaram aquele prato. Mais uma vez Flávia sentiu-se imersa num mundo que amava: o mundo dos sabores, texturas e temperos.

É, estava decidido: iria traçar metas e escolher seu objetivo, não podia continuar vivendo dessa forma – insatisfeita com seu emprego, com sua vida, com a não realização de seu grande sonho. Era imprescindível que esse período de aprimoramento acontecesse, e ela sentia em seu coração que isso era apenas o começo de uma nova fase.

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